A Oficina de história das práticas letradas é dirigida por Andréa Daher. É voltada para questões relacionadas à cultura escrita, à oralidade, à retórica e outras, no âmbito das mais diversas práticas culturais. As pesquisas desta Oficina são dedicadas às práticas de representação, especialmente à escrita missionária ibérica e francesa relacionada ao Novo Mundo, na época moderna; e às práticas culturais e artísticas na época contemporânea.
pesquisador coordenador
Andrea Daher é professora emérita do Instituto de História da UFRJ, atuante junto ao Programa de Pós-graduação em História Social nesta instituição e pesquisadora do CNPq. Foi professora associada da Universidade de São Paulo, de 1995 a 1997, e professora visitante da Universidade de Brasília, entre 2020 e 2021. Seus estudos se voltam para questões relacionadas a práticas culturais, em particular às práticas de representação letrada e às relações entre oralidade e cultura escrita, nas épocas moderna e contemporânea. É autora de Les Singularités de la France Equinoxiale, em 2002 (tradução brasileira O Brasil francês, 2007); e de A Oralidade perdida, em 2012, (tradução francesa L’Oralité perdue, 2016). Ocupou a Cátedra Alfonse Dupront, em 2010, na universidade de Paris IV-Sorbonne e foi titular, entre 2010 e 2014, da Cátedra de Ciências Sociais Sergio Buarque de Holanda, junto à Maison des sciences de l’homme, na França.
pesquisador associado
Alcir Pécora (Unicamp)
Abel Barros Baptista (Universidade Nova de Lisboa)
João Adolfo Hansen (USP)
Luiz César de Sá (UnB)
Marcello Moreira (UESB)
pesquisador colaborador
André Caruso (doutorando)
Carlos Romário Matos (mestrando)
Felipe Teles (mestrando)
Juliana Assis (doutorando)
Mareana Mathias (doutorando)
Mariana Freitas de Andrade (mestrando)
Thiago Ferreira (doutorando)
coordenação
2018-2021
“A aliança franco-tupi e a invenção do selvagem na França dos séculos XVI e XVII”
O objetivo central desta pesquisa é identificar, no corpus de relatos franceses capuchinhos do século XVII, as matrizes teológico-ético-políticas da tratadística católica da época moderna, que governavam as relações de amizade e de aliança entre os povos, determinantes, portanto, dos modos relacionais e de identificação com os índios. No interior de um conjunto de materiais que tratam da conversão dos Tupinambá, dois modelos serão comparados, com a finalidade, por um lado, de estabelecer a partir de um conjunto de escritos jesuítico e português sobre o Brasil, de que modo o corpo individual do índio se torna representável, uma vez que as faculdades de sua alma (memória, intelecto, vontade) se encontram integradas na hierarquia corporativa do bem comum do Estado; e, por outro, trata-se de definir as bases teológico-ético-políticas dos usos dessas mesmas noções nos materiais franceses estudados, que estampam o objetivo de promover a união amigável entre nações como reforço da capacidade temporal daqueles da “nação tupinambá”, na qualidade de súditos do reino de França, em suas empresas comuns de guerra, de comércio e de religião.
Projeto de Produtividade em pesquisa, CNPq
orientação
André Caruso da Cruz. Uma república feliz entre os Guarani. A obra de José Manuel Peramás sobre as missões jesuíticas do Paraguai (século XVIII). 2017. Tese (História Social), Universidade Federal do Rio de Janeiro
Carlos Matos. A consagração do romance no âmbito do prêmio Nobel de literatura (1901-1970). 2022. Dissertação (História Social), Universidade Federal do Rio de Janeiro
Felipe Teles. A cultura letrada dos surdos: uma análise da produção editorial da Editora Arara Azul entre 2000 e 2019. 2021. Dissertação (História Social), Universidade Federal do Rio de Janeiro
Juliana Assis Nascimento. As categorias centrais da História da Arte e os discursos e práticas patrimoniais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), anos 50. 2017. Tese (Programa de Pós-graduação em História Social), Universidade Federal do Rio de Janeiro
Mareana Mathias Barbosa. A institucionalização da língua tupi por Plinio Ayrosa e Rodolfo Garcia (c.1890-c.1960). 2019. Tese (História Social), Universidade Federal do Rio de Janeiro
Mariana Freitas de Andrade. A celebridade Rui Barbosa: os interesses e as estratégias políticas que levaram a uma ação museal e patrimonial na casa de um homem público (1889-1938). 2020. Dissertação (História Social), Universidade Federal do Rio de Janeiro
Thiago Ferreira. Uma modernidade utópica na “síntese das artes” de Mário Pedrosa (1935-1981). 2019. Tese (História Social), Universidade Federal do Rio de Janeiro
2021
O Programa de estudos sobre oralidade e literacia reúne as Oficinas de história das práticas letradas e a de estudos teatrais para propor, no âmbito deste laboratório, formular um questionário próprio à história para dar conta do funcionamento dos textos, segundo as modalidades históricas de seus usos sucessivos e na contramão de sua monumentalização literária, construída no interior de sistemas críticos que pretendem determinar, de forma unívoca a história e o sentido dos textos. Esse questionário deverá, portanto, ser formulado a partir de uma arqueologia dos usos, de uma genealogia de conceitos e de uma antropologia de gestos e práticas, de modo a pensar as narrativas nas suas condições mais contextualizadas – por vezes essencialmente orais – de produção, de circulação e de recepção. Em todo caso, as muitas interfaces entre a literacia e a oralidade permitem revelar os mais diversos aspectos das relações sociais. A história cultural, a antropologia e a sociologia têm trazido importantes contribuições para a compreensão das modalidades mais importantes dessa discussão, definindo conceitos e apontando para a construção de campos de análises com perspectivas promissoras. Nos estudos realizados no âmbito deste Programa, serão privilegiados os discursos operados através de trânsito vocal, em particular a forma dialogal encenada, e os dispositivos que evidenciam neles a presença da voz, segundo a perspectiva em que foram performados em seu tempo, podendo recobrir desde os autos jesuíticos até a cena do teatro contemporâneo.
DAHER, Andrea. A Oralidade Perdida. Ensaios de história das práticas letradas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
DAHER, Andrea. L’Oralité perdue. Essais d’histoire des pratiques lettrées (Brésil, xvie-xixe siècle). Paris: Classiques Garnier, 2016.
“Este livro magnificamente bem escrito como genealogia e arqueologia de conceitos e práticas lê textos de franceses e portugueses que fizeram contatos com populações indígenas do litoral da América Portuguesa no século XVI. Demonstra que emprestam voz ao “índio”, figurando com categorias e conceitos cristãos a barbárie, a selvageria, a falta de história e a inconsciência que supõem nele. O que diz a fala selvagem na escrita? Essa é a questão central que o livro enfrenta, fazendo falar, sutilmente, as múltiplas políticas das línguas que se atritam nos papéis que examina e suas apropriações até o século XX. A lucidez das suas análises das leituras de Léry no século XVIII; dos usos da obra de Ferdinand Denis no nacionalismo romântico do século XIX; da psicologização e da unificação autoral modernas e pós-modernas dos discursos jesuíticos faz deste um livro decisivo.” João Adolfo Hansen, Universidade de São Paulo.
Daher, Andrea (org.). Oral por escrito. A oralidade na ordem da escrita, da retórica à literatura. Chapecó/Florianópolis: Argos/UFSC, 2018
O mundo sem vozes das sociedades escritoras que são as nossas nos parece, hoje, perfeitamente natural. Se, a partir da época moderna, a linguagem ingressou em definitivo na ordem letrada, acumulada na memória escrita do passado ou conformada na suposta observação de uma realidade presente, o controle do escrito sobre o oral (e o aural) nunca significou que a palavra falada tivesse deixado de ser audível em textos escritos. Partindo dessas premissas, os textos reunidos neste livro vêm propor formulações críticas sobre a presença do oral no escrito, segundo as modalidades históricas dos seus usos e na contramão de sua monumentalização. Duas ordens de funcionamento dos discursos estão expostas nestes estudos: primeiro, em discursos retoricamente ordenados, entre os séculos XVI e XVIII, quando ainda importava a força visual e sonora das matérias lidas, vistas e ouvidas; e, a seguir, num regime de práticas literárias, quando o valor do oral se esvazia nos termos realistas e expressivos em que se faz a representação da realidade ou a expressão psicológica da autoria. Ao leitor deste livro é oferecida, assim, a evidência da tensão entre oralidade e escrita, como propõe o título, Oral por escrito, em que o valor de um é subsumido no outro, embora seus sentidos permaneçam sempre presentes.